Eu me sinto na obrigação de começar minha réplica admitindo mea culpa e falando o que todos esperam ouvir: desculpem-me. Sou falho, antiquado, inconveniente e mal batizado.
Ah, e a propósito, o plural é guarda-chuvas.
Não quero soar como aqueles que não têm humildade e transferir minha incumbência para os outros. Tenho a maturidade necessária para fazer uma reflexão e identificar meus pontos falhos. Afinal de contas, não nasci ontem.
Mas, honestamente, é difícil pedir perdão pelo nome que me foi atribuído. Isso era algo comum no meu tempo. Difícil também entender como não colaboro com o estilo fashion que muitos anseiam. Gene Kelly e Rihanna provam o contrário.
Eu estive lá
Ainda assim, suplico com olhos marejados, solicito que recorram à memória e se esforcem para lembrar quem sempre esteve ao seu lado nos momentos mais necessários e, também, nos não necessários.
Não é por esse motivo que os melhores amigos são valorizados?
Mesmo ciente das condições meteorológicas desfavoráveis para mim, estive sempre de prontidão e de guarda. Sempre estive lá por você.
Reconheço minha ineficiência, mas, que atire a primeira pedra quem é perfeito.
Que sejam destacadas também minhas múltiplas valências, ou vocês ousariam dizer que o frevo ou Chaplin seriam o mesmo sem mim?
Sei que provoquei cicatrizes, demando atenção no manuseio. Não é uma exigência tão alta. Saliento que não tenho outra forma de interação. Assim sendo, como podem me julgar por não ter sido manejado cuidadosamente?
Além disso, caso precisassem de proteção contra o sol, eu estaria lá. Se desejassem uma bengala, eu estaria lá. Se quisessem ampliar a envergadura e o alcance, eu estaria lá…
Cumpri meu dever
Sei que meus dias estão contados no vosso tempo. Pudera, preciso descansar. Minha haste já não é mais a mesma. Como dói! Estou aqui desde sempre – desde os dinossauros? –, atravessei a idade média e venci gênios como Michelângelo e Einstein.
Não tenho meu lugar ao sol?
Eu sei, um dia eu serei substituído por algo hightech de uma dessas start ups que surgem como gotas na chuva. Um dia, causarei minha última ferida. Um dia, vão olhar para os lados e notar pessoas perfeitamente enxutas. Nesse momento, virarei artigo vintage e retrô. Nesse momento reconhecerão o valor que sempre tive e receberei o prestígio que me é digno.
Até lá, contudo, desculpem-me.
Veja a primeira parte dessa série aqui: