Resumo
A inteligência é um atributo precioso. Ela carrega consigo uma penca de qualidades e, de quebra, nos dá direito a uma série de regalias inimagináveis, como superioridade inalienável, debater sem apresentar argumentos racionais e finalizar um jogo de sudoku.
Um sujeito inteligente tem uma vibe bacana, uma aura quase mágica. Quem não quer ser esse sujeito?
Mas, por razões ainda desconhecidas pela ciência, que não cansa de me desapontar, uns de nós estão eternamente condenados à doce ignorância.
Estatisticamente falando, é impossível que todos tenhamos uma inteligência acima da média. Mas não temei, querido consagrado de intelecto duvidoso, estou aqui para interromper a sua injustificável asnice.
O intuito deste artigo científico não é fazer com que você se torne inteligente, mas fazer com que todos, incluindo você, achem que você é einstenisticamente genial sem a inconveniência de ter que mostrar a língua em todas as fotos.
Convenhamos, ser inteligente de fato, é meio démodé e não é a maior prioridade do momento.
Metodologia
Felizmente, a inteligência não é como a vergonha alheia ou o cheiro de cachaça do Lula, detectáveis a quilômetros de distância.
A percepção da inteligência requer um mínimo de convívio e pode ser tão ludibriada quanto os seguidores do Malafaia.
Por meio de um raso mergulho na filosofia e em zero estudos, concluí que a percepção da inteligência se baseia única e exclusivamente em fatores estético-comportamentais e em nada inclui a inteligência em si.
Para sintetizar, por meio de uma combinação de sutis movimentos corporais, exploração de estereótipos e doses cavalares de hábitos notoriamente MacGyvéricos, farei com que possuam o que considero ser a quintessência da inteligência.
E o melhor de tudo: sem precisar usar métodos ultrapassados que se provaram ineficientes como: dedicação, trabalho duro e estudo.
Nem tendo aulas com renomados youtubers e lendo fakenews do whatsapp seria tão fácil.
Sim, você está a 5 minutos de se tornar uma pessoa brilhante e eliminar de vez essa ultrajante fama de energúmeno.
Desenvolvimento
1) Cabelo
Comecemos pelo básico. O bom e velho tapa no visu!
Se você quer parecer inteligente, bagunce o cabelo de com força. Dê uma xexeuzada de 220v na cabeleira.
Repararam nos caras do Caça-Fantasmas, De volta para o Futuro e Querida, Encolhi as crianças? O que têm em comum? Uma volumosa juba digna de leão da MGM, claro!
Não dá para ser inteligente com o cabelinho na régua, né? Se livre dessas madeixas nutridas e sedosas. Assim como cabelos coloridos e chapiscados, elas evidenciam sua estupidez. Ideal mesmo é ter uma cabeçona terrestremente esférica e uma leve calvice, mas nem todos temos essa genética abençoada.
É um raciocínio simples: o cérebro precisa de espaço pra eurekizar. Impossível ser inteligente com uma mini microscópica cabecinha. Logo, quanto mais volume, melhor.
Isso é tão indispensável quanto o latido de cachorro em vídeo de briga de família – falando nisso, já repararam que outros requisitos são: o cara de capacete e uma tiazinha esbagaçando uma cadeirada em alguém?
2) Óculos megazórdicos
Ainda no ramo estético, use um belo par de óculos gigantes. Monóculo também é bem-vindo.
Não tenha receio de exagerar na espessura e nem no tamanho da armação. São diretamente proporcionais ao respeito que você imprime.
Ajuste-os regularmente ao rosto. Especialmente quando não precisarem de ajustes.
Cinco palavrinhas para você: “nada dá tanta certeza de ignorância quanto a ausência de óculos”.
Para incrementar o efeito, adote uns cacoetes: umas coçadas no queixo aqui, umas piscadas de olhos desordenadas acolá… Intercale e não se limite aos aqui descritos.
Mas não exagere nos tiques nervosos, a ideia é ser descomunalmente inteligente e não estar à beira de um ataque epilético.
3) Título inteligente
Adote uma alcunha que remeta a uma inteligência farta. Esse passo é fácil. Difícil é fazer com que a moda pegue. Alguns, menos providos de educação, simplesmente, não respeitam a hierarquia.
Altere sua identidade para algo como João Cheira-Livro, Betinho Da Vinci, Coronel Mostarda, ou Professor Black. Nessa linha… A originalidade e conexão com a realidade não são importante. Quantos mitos você já não viu nesses últimos tempos?
Deixe a mente fluir, você consegue. Não tenha vergonha de se intitular. Como você acha que Alexandre virou “O Grande”, o Olavo de Carvalho virou “O Intelectual” e os médicos e advogados viraram “doutores”? Capriche na escolha, mas atente para não escolher uma patente não muito alta porque pode vir um astrólogo e acabar sendo superior a você.
Vai fundo! O efeito é dobrado se o apelido for em uma língua estrangeira: Tonho Cur-du-Fer.
Já estamos quase lá. Já temos o suficiente para dar eventuais patadas nos menos afortunados e não ser mais o zero à esquerda do grupo.
Mas não se dê por satisfeito, você pode mais.
4) Fumo
Dê um chega pra lá na saúde e, sabiamente, defume seus pulmões.
Não estou falando desses cigarros de esquina para pessoas ignorantes. Fume um pomposo cachimbo. Ou charuto. Ou narguilé. Ou palha de palmeira da primavera panamenha.
Fume algo não convencional. Ser convencional é um dos primeiros itens da cartilha de como NÃO ser inteligente, logo atrás de colocar o dedo na tomada e de tentar estocar o vento.
Eventualmente, nas suas escassas redes sociais, peça recomendação de loja com bons fumos e refute qualquer sugestão com argumentos completamente subjetivos.
Você não pode sair por aí acatando sugestões dos outros. Só idiotas aceitam a opinião alheia.
Já dá pra sentir o cheirinho da inteligência e do câncer de pulmão se aproximando, não é? De nada!
Mas não se apresse, pequeno padawan, ainda falta o último passo. Certamente, o mais importante:
5) Cultura popular
É de amplo conhecimento que pessoas inteligentes detestam pontos comuns da cultura popular.
Qualquer elemento abaixo listado é terminantemente proibido e deve ser tratado com ódio e intolerância. Exatamente como os minions tratam a razão.
- Abomine o funk. Uma rebolada na raba não pode ser feita nem sob ameaça de morte. Assegure-se de exclamar que funk não é arte porque não lhe convém.
- Deteste reality shows. Pode até curtir, mas não publicamente. Reitere, inadvertidamente, seu ódio por BBB. Mesmo que o assunto da roda seja “por que os passageiros do avião ficam em pé séculos antes do desembarque?”.
- Repudie as gírias da moda. Não devem ser ditas nem se fossem um dos 10 mandamentos. Como exemplo, a palavra top e seus derivados devem ser abolidos: topper, topzeira, topperson, toppérrimo…
- Finja náuseas ao falar de futebol. Opinar sobre futebol seria se sentenciar irrefutavelmente ao abismo da ignorância. Diga que futebol não passa de marmanjos correndo de um lado para o outro e não vê graça nisso. Copa do mundo? Pão e circo para politicamente alienados.
Em contrapartida, sentir atração por algo incomum e desconhecido tem extremo valor para a comunidade dos I ❤️ Inteligência:
- Amar uma irrelevante banda musical dos anos 70. Convide a turma para escutá-los em vinil na sua vitrola vintage. Não se preocupe em ter uma, a turma vai dispensar o convite. Isso é um bom sinal. A técnica está funcionando.
- Curta críquete. Softball e futebol gaélico geram o mesmo efeito. Sempre que perceber gente se divertindo por meio do esporte, inferiorize o esporte e diga que não se compara com sepak takraw. Um esporte que exige muito mais vigor físico, estratégia, dotes culinários, física quântica, mestrado em administração, psicologia organizacional, e fluência em, no mínimo, 3 idiomas.
Conclusão
Prontinho, se você chegou até aqui e seguiu tudo à risca, o seu QI deve estar beirando a estratosfera.
Aguarde alguns minutos e receberá um convite para o clube dos superdotados mais próximo. A partir de então gozará do direito de inflar o ego e refutar os axiomas da ciência contemporânea a vontade.
Não deixe de, involuntariamente, usar a hasthtag #flatEarth e propagar o ódio no twitter de vez em sempre. Preferencialmente entre as coçadas no queixo e as ofensas ao futebol.