Não é possível que só eu me incomode com esse desconfortável e antiquado artefato. Não é possível que só eu prefira chegar molhado ao meu destino. Não é possível que só eu perceba o quão distante da nossa realidade tecnológica estão os guardas-chuvas (assim como o papel higiênico, diga-se de passagem). Uma das maiores farsas da humanidade, ao lado do papai Noel e das promoções do iFood.
Não é possível que só eu não saiba como escrever guarda-chuva no plural.
Verdade seja dita: esse trambolho não pode coexistir na mesma época que o iPhone, a colonização espacial e os serviços de entrega com drones. Em pleno 2018, nos idos do século XXI, no auge da geração internet, nós somos obrigados a conviver com a inconveniência de levar conosco essa infame geringonça.
Jesus amado, essa birosca foi inventada há sei lá quantos séculos e até hoje não funciona. É sabido por todos que os guardas-chuva são tão eficientes contra a chuva quanto os mitos na política e, aparentemente, a sociedade está de boa com isso.
Até tu, da Vinci? Francamente, como deixaste o guarda-chuva passar intacto à idade média?
Sem contar que o nome foi obviamente atribuído equivocadamente. Como assim “guardar” a chuva? Ah não, comigo não, eu me recuso!
Piora, sempre tem um infeliz indivíduo que desfila com tal arma perfuro-cortante sem a habilidade necessária para não golpear os globos oculares alheios. Esse mesmo infeliz esquece que não precisa usar o guarda-chuva em áreas cobertas e bloqueiam o nosso caminho nos obrigando a ziguezaguear para driblá-los.
Como se não bastasse, todos os guarda-chuvas vêm com o irritante dom da clarividência instalado de fábrica. Ao detectar o menor sinal de chuva, insistem em estar onde não são necessários. Chove no trabalho? Os guarda-chuvas estão em casa. Chove na faculdade? O guarda-chuva está no carro…
Por último, porém não menos importante, é difícil mandar um estilo fashion portando o indigno aparato.
Diante da escassez de alternativas, invariavelmente concluo: encharcarei-me.
Dizer basta é preciso!
O que é necessário ser feito para que haja um choque de realidade? Para quem devo reportar minha insatisfação e aliviar meu peito através de um grito de liberdade? Até quando, nós, cidadãos de bem, inocentes, seremos condenados a pagar pela incompetência científica?
Sinceramente, estou realmente decepcionado com a humanidade.
É com certo grau de desapontamento que escrevo este texto, confesso. Não sei bem o que pretendo atingir com isso. Pode ser que eu nutra a esperança de angariar mais revoltos como eu e, talvez, alcançar as autoridades irresponsáveis a fim de sensibilizá-los. Talvez, tudo que eu queira seja estimular a comunidade tecnológica. Pode ser que eu só precise mesmo desabafar.
Mas não, não me darei por vencido!
Cientistas do mundo todo, agi vós.
Eu acredito! Vocês já pisaram na lua, vocês já enviaram sondas para além do nosso sistema solar, vocês até já provaram que a Torre Eiffel aparenta ser significantemente menor ao inclinar a nossa cabeça para a esquerda. Não tem como um de vocês se dedicar um pouquinho para elaborar uns guarda-chuvas 2.0? É pedir demais?!
Que me desculpem as empresas fabricantes de guarda-chuva e seu famigerado carro-chefe, aos quais, o meu mais profundo asco, mas inovar é essencial.
Eu sou mesmo apenas um sonhador…
Se ficou com dó, ou concorda com gênero, número e grau. Confira a réplica do guarda-chuva: